Capítulo 5 – Um Final de Semana, Muitos Silêncios ( final do capítulo)

O toque do celular cortou o silêncio do quarto. Estrela, deitada na cama com os olhos fixos no teto, viu o nome de Bruno acender na tela. Respirou fundo antes de atender.

— Oi...

— Amor, tá tudo bem? Você tá estranha nas mensagens... — a voz dele soava doce, familiar, como um porto seguro que agora parecia distante demais.

Ela fechou os olhos, tentando não deixar a voz vacilar.

— Tô... tô só um pouco cansada. Muito calor aqui, muita gente. Acho que exagerei no sol.

— Quer que eu vá te buscar? Saí mais cedo hoje. Posso estar aí em duas horas.

Houve uma pausa. Ela mordeu os lábios. A confusão dentro de si pulsava como tambor.

— Pode vir. Por favor.

Menos de duas horas depois, Bruno estacionou em frente à casa. Estrela já estava pronta: mala em mãos, cabelo preso num coque apressado, expressão serena demais para quem carregava uma tempestade no peito.

Desceu as escadas em silêncio. Patrícia conversava com Júlia na cozinha, e Dante havia saído para uma caminhada com Léo. A casa, pela primeira vez no fim de semana, parecia conspirar a favor de sua fuga.

Ninguém a viu sair, exceto a pequena Clara, filha de um dos casais, que brincava na varanda. Ao vê-la, acenou com as mãozinhas sujas de chocolate.

Estrela sorriu de volta, um sorriso curto e triste, como quem se despede de um sonho antes mesmo de vivê-lo.

Entrou no carro sem dizer uma palavra a Bruno. Apenas encostou a cabeça no vidro, as lágrimas escorrendo silenciosas. Ele, alheio, falava empolgado sobre um novo projeto no trabalho — como se nada tivesse mudado.

Dante voltou da caminhada com Léo e notou de imediato o vazio estranho ao redor da piscina. Sentiu falta de algo. De alguém. Procurou entre os rostos, os risos, os sons... mas não a viu.

— Cadê a Estrela? — perguntou casualmente, fingindo desinteresse.

Patrícia, que passava com uma bandeja de copos vazios, respondeu sem desviar o olhar:

— Foi embora.

— Foi embora? Assim, do nada?

— Bruno veio buscá-la. Acho que ela se cansou de... certas coisas.

Ele franziu a testa, surpreso.

— Ela não disse nada.

Patrícia parou, olhou bem dentro dos olhos dele e soltou, enigmática:

— Talvez não precisasse dizer.

E saiu.

Dante ficou ali, parado, absorvendo a ausência. Sentou-se na beira da piscina, tentando encontrar no calor da tarde alguma explicação para o frio que crescia dentro dele.

Sentia-se vazio. Como se algo que nem sabia que desejava lhe tivesse sido tirado.

Mais tarde, ao subir para o quarto, começou a juntar algumas coisas na mochila. Júlia entrou e o encontrou de costas, dobrando a camisa favorita.

— Vai embora mesmo? — perguntou, tentando conter a voz trêmula.

— Não vejo mais razão pra ficar. — respondeu, sem se virar.

— Porque a Estrela foi embora? — desafiou, cruzando os braços.

Dante suspirou, cansado da tensão que se acumulava havia dias.

— Porque tudo isso tá sufocando. Porque eu não aguento mais fingir que tá tudo bem quando não tá.

Júlia mordeu o lábio inferior, contendo as lágrimas.

— Você só quer fugir. Sempre foi assim. E agora tá correndo porque ela se foi.

— Não é sobre ela. É sobre nós. A gente parou de tentar faz tempo, Júlia. Você sabe disso.

Ela baixou os olhos, derrotada.

— Me desculpa... pelas coisas que eu disse. Eu tô magoada, mas... ainda quero lutar.

Ele a olhou pela primeira vez, surpreso com a sinceridade.

— Não sei se ainda faz sentido lutar.

— Talvez não. Mas... posso ao menos tentar cuidar de você? Como antes?

Houve um silêncio tenso. Júlia respirou fundo.

— Vai tomar um banho. Vou preparar seu prato preferido. Quem sabe isso não ajuda a lembrar da gente de verdade?

E saiu, determinada, como quem encara uma guerra com flores nas mãos.