Capítulo 5 – Um Final de Semana, Muitos Silêncios (Parte 3)
O dia seguiu calmo, mas não leve. Estrela passou o restante da manhã evitando cruzar olhares com Dante. Conversava com os demais convidados, ria com delicadeza, mas carregava um peso silencioso no peito. Algo dentro dela já começava a se perguntar se estava sentindo demais por alguém que talvez apenas estivesse carente.
Na varanda, enquanto os homens se preparavam para a pescaria e algumas mulheres organizavam um lanche, Patrícia se aproximou de Estrela com duas xícaras de chá de hibisco nas mãos.
— Aqui... você gosta, né? — disse ela, oferecendo uma das xícaras.
— Amo. Obrigada. — Estrela sorriu.
Ficaram sentadas por alguns minutos observando a paisagem. Patrícia, que sempre foi perceptiva, parecia guardar algo nos olhos. Até que soltou, de forma quase casual:
— Você e Dante estão se dando bem, né?
Estrela olhou para frente, disfarçando. — Acho que sim. Quer dizer... a gente conversou um pouco. Ele é gentil.
— É... quando ele quer, é mesmo. — Patrícia disse com um tom levemente irônico, mas não cruel.
Estrela franziu o cenho. — Por que esse tom?
Patrícia respirou fundo e apoiou a xícara no braço da cadeira de madeira.
— Olha, não quero me meter. Mas você é uma mulher doce, sensível... não queria te ver se machucando. Dante é... complicado. Júlia sabe disso, mas finge que não. E ele... ele tem um histórico que não combina com alguém que busca algo sério.
Estrela não respondeu. Apenas escutava. Um leve aperto se formava no estômago.
— Antes de Júlia, ele teve vários casos. Muitos. E mesmo com ela... bem, digamos que nem sempre foi fiel. Ela mesmo me contou. E olha, não sou santa. Mas tem homem que machuca mais com o silêncio do que com a traição.
Estrela abaixou o olhar. O chá, agora, parecia ter perdido o gosto.
— Patrícia... por que está me contando isso?
— Porque eu gosto de você. Porque sei como a gente se ilude com homens que parecem quebrados, achando que podemos curar. Mas Dante não quer ser curado, Estrela. Ele quer se sentir vivo, desejado. E isso dura... até a próxima.
Essas palavras ecoaram como um trovão dentro dela.
— Me desculpa — disse Patrícia, se levantando. — Só queria que você soubesse. Mas, claro, a escolha é sua.
Estrela ficou ali, imóvel, encarando o campo à frente. O vento soprou forte e fez as folhas caídas se agitarem. Ela sentia como se tudo dentro dela tivesse se deslocado também.
Mais tarde, quando Dante se aproximou para conversar, ela o evitou. Sorriu com educação, mas seus olhos já não buscavam os dele. Criou uma desculpa qualquer e se recolheu no quarto, alegando cansaço.
Na cama, com o lençol até o queixo, sentia-se ridícula. Tão vulnerável. Tão... boba. A lembrança da conversa com Patrícia se misturava com os gestos de Dante e criava um conflito que ela não sabia decifrar. Teria sido tudo apenas jogo? Um novo capítulo no histórico dele?
Lá fora, Dante procurava Estrela com o olhar. Sentia sua ausência como um silêncio incômodo. Algo havia mudado. Mas o quê? Ele não sabia.
Na varanda, Patrícia cruzou com ele. Trocaram um olhar breve, cheio de mensagens não ditas. Ele percebeu. E soube.
Patrícia havia falado com Estrela.
E talvez, só talvez... agora fosse tarde demais.