Capítulo 8 – O Que Ainda Vive em Silêncio

Blog: Flor sem Nome

✍🏼 Às vezes, o tempo não leva embora.

Ele apenas muda de lugar.

As palavras que Dante escrevia pareciam ecoar — ainda que não fossem lidas por ninguém além dele.

“Ela virou mãe.

E eu virei silêncio.”

O diário, com a capa de couro preta e uma árvore gravada na frente 🌳, tornara-se seu abrigo.

Ali, ele conseguia dizer o que não cabia mais na boca.

E do outro lado da cidade...

Estrela fazia o mesmo.

👶 Flor já completava três meses.

Entre as cólicas e os sorrisos banguelas, Estrela escrevia cada detalhe:

“Hoje ela me olhou como se entendesse.

Como se dissesse: ‘Você está indo bem, mamãe.’

E por um segundo, a minha criança ferida descansou.”

🌳 Duas Árvores, Um Solo Invisível

Ambas as agendas estavam ali.

Guardadas em casas diferentes.

Em vidas que já não se tocavam.

Mas ainda assim… idênticas.

🖤 De couro preto.

🌳 Com uma árvore na capa.

📖 Folhas levemente amareladas.

A mesma textura. O mesmo cheiro.

Como se feitas para contar a mesma história… em línguas diferentes.

Dante escreveu naquele dia:

“Descobri que amor também é deixar ser feliz longe de você.”

Estrela, no mesmo dia, rabiscou:

“Talvez o amor verdadeiro não seja aquele que fica,

mas o que respeita a hora de partir.”

Era como se o universo ainda os unisse…

Não pelo toque, mas pela palavra.

📚 Histórias Paralelas

As agendas começaram a ganhar corpo.

✍🏽 Dante, que nunca se assumira poeta, passou a escrever pequenas crônicas sobre o amor perdido.

🌷 Estrela, mais ousada, escrevia contos sobre a maternidade — doces, crus, reais.

E sem saber…

Ambos falavam um do outro.

Sem citar nomes.

Sem precisar.

💭 As palavras bastavam.

🍃 Quando Algo Insiste em Viver

Certa noite, Dante sentou-se à varanda com sua agenda.

Fechou os olhos. O vento bagunçava os pensamentos.

Então escreveu:

“Se eu te visse hoje, só diria: obrigada.

Por me ensinar que até os desencontros têm um propósito.”

E pela primeira vez, ao escrever, ele chorou.

Sem vergonha. Sem contenção.

Enquanto isso, Estrela colocava Flor para dormir, e sentia o peito aquecido.

Apertou sua agenda contra o corpo e sussurrou:

— Obrigada, Dante… pela parte boa de quem me tornei.

Ela não sabia…

Mas havia acabado de escrever o mesmo agradecimento.

As agendas permaneceram ali.

Fechadas na estante.

Mas vivas.

De tempos em tempos, ambos voltavam a escrever.

Não como antes.

Agora com mais calma.

Como quem rega uma planta que não precisa mais florescer...

🌱 Apenas existir.

Estrela seguiu.

Dante também.

Mas havia algo entre eles que nunca precisou de reencontro para continuar:

🖋️ A memória partilhada.

📓 A palavra escondida.

🌳 A árvore na capa.

🤫 E o mesmo tipo de silêncio:

aquele que não machuca… só respeita.