Flor mundo da imaginação

Entre silêncios e sentimentos, escrevo o que muitos sentem, mas poucos sabem dizer. Romance, poesia e alma em cada linha. Bem-vindo(a) ao meu mundo

O amor mais bonito

não chega com promessas,

chega com sorriso leve

e olhos que se encontram sem pressa.

Nasce em silêncios suaves,

em gestos pequenos,

num olhar curioso,

num riso sereno.

Não sabe de futuro,

nem tem medo do fim.

Só existe ali,

presente e simples assim.

É um amor sem pressa,

sem saber que é amor.

Mas já é semente,

já tem sabor.

É encontro de almas

antes mesmo da razão.

É afeto que cresce

sem pedir explicação.

Os anos passaram como folhas levadas pelo vento.

Entre novas rotinas, n, horários trocados e um silêncio que ecoava apenas nas entrelinhas de agendas pretas de couro com uma árvore gravada na capa, a vida seguia.

Duas crianças cresciam em extremos da mesma história.

🌼 Flor era luz que se espalhava pelas manhãs com seus cachos dourados, um sorriso curioso e uma energia incansável.

🦋 Léo, já mais velho, caminhava entre árvores e borboletas, fascinado pela leveza da vida e das asas.

Moravam em bairros diferentes. Nem próximos, nem distantes demais. Mas o destino, teimoso como é, sempre encontra brechas.

E naquela cidade pequena — onde o parque era mais que um passeio: era o ponto de encontro de almas —, as linhas começaram a se cruzar.

🌿 Um Encontro de Infância

Naquela tarde de sábado, o sol brilhava sem pressa.

Flor brincava próxima à fonte do parque, montando “caminhos mágicos” com pedrinhas coloridas.

Léo observava de longe, segurando um potinho onde, cuidadosamente, protegia uma borboleta que encontrara ferida.

— Você vai soltar ela? — perguntou Flor, se aproximando.

— Vou esperar ela melhorar — respondeu Léo, sem tirar os olhos da pequena asa laranja.

A conversa foi nascendo como nascem as boas amizades: sem esforço.

Em poucos minutos, estavam sentados juntos no chão de grama, dividindo histórias inventadas, ideias sobre o céu e até uma batata frita que o tio de Léo havia comprado.

Não sabiam ainda os nomes.

Nem a coincidência que os ligava.

Nem o passado entrelaçado que dormia nas agendas dos seus pais.

✨ De Volta para Casa

À noite, em casas distintas, em ruas diferentes, os dois chegaram radiantes:

— Mãe, conheci um amigo novo! — disse Flor, enquanto devorava a janta.

— Pai, brinquei com uma menina muito legal! — contou Léo, animado.

Nos dois lares, os pais sorriram.

Guardaram o momento como mais um entre tantos outros.

E depois...

Como em um sutil sussurro do destino, abriram suas agendas pretas de couro.

Escreveram.

Talvez o mesmo pensamento, em formas diferentes:

“Há encontros que a gente não vê chegando, mas que a alma reconhece de longe.”

“Será que aquilo que plantamos no silêncio pode florescer no tempo certo?”

🌌

Dois mundos que ainda não se olhavam diretamente, mas começavam, sem saber, a se reconhecer através das sementes.

As crianças voltariam ao parque.

E os caminhos, mesmo desencontrados, já estavam se alinhando no invisível.

Dois caminhos, dois silêncios,

duas almas que se encontraram no tempo errado —

mas se marcaram feito páginas dobradas

em um livro que nunca foi fechado.

Ela, com olhos de chuva e passos firmes,

aprendeu a florescer sem plateia,

a amar quem fica, quem cuida,

quem constrói com calma e presença.

Ele, do outro lado da vida,

seguiu entre risos e rotinas,

mas às vezes, ao cair da tarde,

o pensamento ainda voltava.

Ambos escreviam.

Na mesma agenda preta,

de couro gasto e árvore na capa,

plantavam versos e saudades.

Ela escrevia para se lembrar de si.

Ele, para não esquecer.

Sem saber que cada linha

era quase uma conversa silenciosa.

Não era mais amor —

era memória que pulsa,

era dor que virou semente,

era escolha que virou raiz.

Porque às vezes,

quem não fica, floresce em outro lugar.

E quem decide ficar,

descobre o valor de permanecer.

Blog: Flor sem Nome

✍🏼 Às vezes, o tempo não leva embora.

Ele apenas muda de lugar.

As palavras que Dante escrevia pareciam ecoar — ainda que não fossem lidas por ninguém além dele.

“Ela virou mãe.

E eu virei silêncio.”

O diário, com a capa de couro preta e uma árvore gravada na frente 🌳, tornara-se seu abrigo.

Ali, ele conseguia dizer o que não cabia mais na boca.

E do outro lado da cidade...

Estrela fazia o mesmo.

👶 Flor já completava três meses.

Entre as cólicas e os sorrisos banguelas, Estrela escrevia cada detalhe:

“Hoje ela me olhou como se entendesse.

Como se dissesse: ‘Você está indo bem, mamãe.’

E por um segundo, a minha criança ferida descansou.”

🌳 Duas Árvores, Um Solo Invisível

Ambas as agendas estavam ali.

Guardadas em casas diferentes.

Em vidas que já não se tocavam.

Mas ainda assim… idênticas.

🖤 De couro preto.

🌳 Com uma árvore na capa.

📖 Folhas levemente amareladas.

A mesma textura. O mesmo cheiro.

Como se feitas para contar a mesma história… em línguas diferentes.

Dante escreveu naquele dia:

“Descobri que amor também é deixar ser feliz longe de você.”

Estrela, no mesmo dia, rabiscou:

“Talvez o amor verdadeiro não seja aquele que fica,

mas o que respeita a hora de partir.”

Era como se o universo ainda os unisse…

Não pelo toque, mas pela palavra.

📚 Histórias Paralelas

As agendas começaram a ganhar corpo.

✍🏽 Dante, que nunca se assumira poeta, passou a escrever pequenas crônicas sobre o amor perdido.

🌷 Estrela, mais ousada, escrevia contos sobre a maternidade — doces, crus, reais.

E sem saber…

Ambos falavam um do outro.

Sem citar nomes.

Sem precisar.

💭 As palavras bastavam.

🍃 Quando Algo Insiste em Viver

Certa noite, Dante sentou-se à varanda com sua agenda.

Fechou os olhos. O vento bagunçava os pensamentos.

Então escreveu:

“Se eu te visse hoje, só diria: obrigada.

Por me ensinar que até os desencontros têm um propósito.”

E pela primeira vez, ao escrever, ele chorou.

Sem vergonha. Sem contenção.

Enquanto isso, Estrela colocava Flor para dormir, e sentia o peito aquecido.

Apertou sua agenda contra o corpo e sussurrou:

— Obrigada, Dante… pela parte boa de quem me tornei.

Ela não sabia…

Mas havia acabado de escrever o mesmo agradecimento.

As agendas permaneceram ali.

Fechadas na estante.

Mas vivas.

De tempos em tempos, ambos voltavam a escrever.

Não como antes.

Agora com mais calma.

Como quem rega uma planta que não precisa mais florescer...

🌱 Apenas existir.

Estrela seguiu.

Dante também.

Mas havia algo entre eles que nunca precisou de reencontro para continuar:

🖋️ A memória partilhada.

📓 A palavra escondida.

🌳 A árvore na capa.

🤫 E o mesmo tipo de silêncio:

aquele que não machuca… só respeita.

O enjoo veio antes do atraso.

Estrela, desconfiada, fez o teste sozinha, com as mãos trêmulas.

Duas linhas. Tão nítidas quanto o turbilhão que sentia.

Sentou-se no canto da cama. O coração acelerado. A respiração presa.

Quando Bruno entrou no quarto e viu o teste sobre a mesa, parou no mesmo instante.

— Estrela...? — Sua voz saiu baixa, mas cheia de cuidado.

Ela apenas assentiu, sem conseguir dizer uma palavra.

Mas naquele silêncio, tudo foi dito.

Bruno se aproximou devagar, ajoelhou-se diante dela e segurou sua mão.

— A gente vai dar conta. Juntos.

Não foi um momento cinematográfico.

Foi real. Simples. Bonito.

Como as coisas que nascem de terra firme.

Desde aquele dia, tudo mudou.

Bruno passou a chegar mais cedo.

Participava das consultas, montava o berço, pesquisava nomes.

Deixava bilhetes pela casa com desenhos bobos e mensagens doces:

“Você está brilhando e eu te amando cada dia mais”

Estrela, agora mais centrada, enxergava tudo.

E pela primeira vez, ela não se sentia só.

Escrevia na agenda todos os dias.

Frases curtas, mas que ajudavam a fixar a mulher em que estava se tornando:

Sou capaz.”

“Meu valor não está no olhar de ninguém.”

“Amor é escolha. E eu escolhi Bruno.”

Mesmo assim, vez ou outra, Dante surgia como uma lembrança suave.

Só para lembrar que ela era suficiente e não precisava disputar o amor de ninguém.

O nome do bebê?

Veio como presente da alma: Flor.

Porque ela nasceu do lugar mais improvável: a terra remexida pela dor… e transformada pelo recomeço.


☕ Do Outro Lado da Cidade...

Dante vivia seus dias com a rotina que tinha escolhido.

Julia era boa companhia, o filho era sua alegria — Léo crescia curioso, apaixonado por borboletas, livros e dias de sol.

— Mãe, olha essa aqui! A mais linda até agora! — disse Léo, empolgado com sua “casa de borboletas” feita de papelão.

— Você ama essas borboletas, hein, filho? — Julia riu, oferecendo um suco.

Elas são livres, mas sempre voltam quando encontram um lugar seguro.

A frase pairou no ar. Julia sorriu.

Dante, vindo do corredor, parou ao ouvir.

Antes que dissesse qualquer coisa, o celular vibrou: mensagem de Patrícia.

“Você viu isso? Estrela vai ser mãe!!!”

(link da matéria com uma foto dela sorrindo, grávida)

Dante clicou no link com o coração disparado.

A imagem apareceu: Estrela com a mão sobre a barriga.

Serena. Radiante.

O mundo pareceu parar por um instante.

Léo olhou curioso:

— Quem é?

— Uma amiga antiga — respondeu Dante, tentando esconder o impacto.

— Você parece triste...

— Não… só surpreso.

Enquanto Léo voltava para suas borboletas, Dante permaneceu ali.

O olhar fixo naquela foto.

Estrela havia seguido em frente.

E, pela primeira vez, ele entendeu que talvez ele também devesse começar a deixar o passado ir.

Bruno nunca foi de muitas palavras.

Não mandava flores, nem escrevia cartas.

Mas sempre esperava o jantar esfriar junto.

E, quando Estrela precisava de silêncio, ele sabia.

Por isso, quando ela voltou daquela viagem... diferente — mais quieta, mais distante, mais ausente — ele sentiu.

E, pela primeira vez, Bruno reagiu.

Começou a chegar mais cedo do trabalho. Preparava o café com mais cuidado. Tentava tocar sua mão quando ela estava distraída. Oferecia ajuda com pequenas coisas que antes nem percebia.

À noite, ao invés de ligar a televisão, sentava ao lado dela, em silêncio — como quem queria escutar até os pensamentos.

Estrela percebeu.

E, por muito tempo, isso só aumentou sua culpa.

Mas depois de alguns dias, algo começou a mudar.

Dentro dela.

Ela entendeu que não estava fugindo de Dante, nem correndo de Bruno — estava, na verdade, tentando se encontrar. Tentando amar algo que ela mesma ainda não conhecia: a mulher que havia se tornado.


🌿 Começou com uma caminhada leve no parque, sozinha, ouvindo músicas antigas.

Depois, uma ida à livraria. Comprou uma agenda bonita, onde começou a escrever tudo o que sentia. As dores, os medos, os sonhos esquecidos, as memórias boas com Bruno que, até então, pareciam apagadas.

Passou a se cuidar.

Cuidar do corpo, sim — mas principalmente da alma.

Voltou ao trabalho com mais foco, mais vontade. A cada conquista, uma anotação na agenda:

“Sou capaz.”

“Não preciso ser perfeita, só presente.”

“Bruno sempre esteve aqui. Talvez o amor seja isso.”

Bruno notou cada mudança.

Não perguntava, mas sorria diferente.

Sabia que algo estava florescendo.


📝 Certa noite, ele deixou um bilhete no travesseiro:

Te ver sorrindo de novo é tudo o que eu precisava. Obrigado por ficar.”

Ela chorou em silêncio.


🎧 Dante ainda surgia nos pensamentos, de vez em quando. Era como uma melodia que volta no rádio sem aviso. Uma sintonia que não se esquece.

Mas Estrela sabia — sintonia não é raiz.

E ela precisava de raízes.

Olhou para Bruno. Ele dormia com a mão sobre o peito, como sempre fazia.

Ali, no silêncio do quarto, ela entendeu.


Fez sua escolha.

Não por obrigação. Nem por medo.

Mas porque amar também é decisão.

E ela havia decidido florescer onde a terra era firme,

mesmo que não fosse perfeita.

Seu amor se chamava Bruno.

E, dessa vez, ela estava pronta para amá-lo de verdade.

Não existe manual, mas existe amor. E isso precisa bastar.

Ser mãe é carregar nos ombros uma responsabilidade que, às vezes, pesa mais dentro da alma do que nos braços.

É saber que vou errar, mesmo dando tudo de mim.

É me cobrar perfeição mesmo sabendo que ela não existe.

É fazer cem coisas por ele e ainda achar que não foi o suficiente.

Mas tem algo que me salva, todos os dias:

um tempo só nosso.

Quando paro tudo para simplesmente estar com meu filho — olhar nos olhos, brincar, caminhar, rir com ele — percebo que aquele sorriso não ilumina só o rosto dele.

Ilumina o meu também.

É nesses momentos que entendo: não sou só mãe, sou humana.

E tudo bem não estar bem o tempo todo.

Mas quando não estou... ah, como a culpa pesa!

Duas vezes.

Por ele — porque acho que merecia uma mãe melhor naquele instante.

E por mim — porque deixei de me acolher, tentando ser forte demais.

A verdade?

Estou aprendendo com ele a ser mais leve.

A deixar o amor transbordar, mesmo no meio da bagunça.

Porque no final, não são os dias perfeitos que marcam a infância...

São os dias em que simplesmente estivemos juntos.

Quer ser a melhor mãe do mundo? Seja você

Ela o amava com força.

Com entrega.

Com uma urgência que beirava o abandono de si.

Mas no fundo, algo sussurrava:

Se para te amar, eu preciso me perder… é amor ou prisão?”

Essa poderia ser apenas uma cena de romance.

Mas quantas de nós já amamos assim?

Por muito tempo, acreditamos que amar era se anular.

Algumas de nós foram vistas apenas quando estavam doentes… ou quando erravam.

Crescemos entendendo que vulnerabilidade traz atenção.

E isso virou uma busca inconsciente: sofrer para ser amada.

Mas o amor verdadeiro… cura. Não consome.

Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22:39)

É esse amor que valoriza a essência. Que não exige que você se desmonte para caber.

Hoje, escolho amar com equilíbrio.

E talvez, minhas personagens também estejam aprendendo esse caminho.

E você? Já se anulou por amor?

#RomanceComPropósito #Autoamor #FéQueLiberta #ReflexãoDoDia #CuraInterior

O toque do celular cortou o silêncio do quarto. Estrela, deitada na cama com os olhos fixos no teto, viu o nome de Bruno acender na tela. Respirou fundo antes de atender.

— Oi...

— Amor, tá tudo bem? Você tá estranha nas mensagens... — a voz dele soava doce, familiar, como um porto seguro que agora parecia distante demais.

Ela fechou os olhos, tentando não deixar a voz vacilar.

— Tô... tô só um pouco cansada. Muito calor aqui, muita gente. Acho que exagerei no sol.

— Quer que eu vá te buscar? Saí mais cedo hoje. Posso estar aí em duas horas.

Houve uma pausa. Ela mordeu os lábios. A confusão dentro de si pulsava como tambor.

— Pode vir. Por favor.

Menos de duas horas depois, Bruno estacionou em frente à casa. Estrela já estava pronta: mala em mãos, cabelo preso num coque apressado, expressão serena demais para quem carregava uma tempestade no peito.

Desceu as escadas em silêncio. Patrícia conversava com Júlia na cozinha, e Dante havia saído para uma caminhada com Léo. A casa, pela primeira vez no fim de semana, parecia conspirar a favor de sua fuga.

Ninguém a viu sair, exceto a pequena Clara, filha de um dos casais, que brincava na varanda. Ao vê-la, acenou com as mãozinhas sujas de chocolate.

Estrela sorriu de volta, um sorriso curto e triste, como quem se despede de um sonho antes mesmo de vivê-lo.

Entrou no carro sem dizer uma palavra a Bruno. Apenas encostou a cabeça no vidro, as lágrimas escorrendo silenciosas. Ele, alheio, falava empolgado sobre um novo projeto no trabalho — como se nada tivesse mudado.

Dante voltou da caminhada com Léo e notou de imediato o vazio estranho ao redor da piscina. Sentiu falta de algo. De alguém. Procurou entre os rostos, os risos, os sons... mas não a viu.

— Cadê a Estrela? — perguntou casualmente, fingindo desinteresse.

Patrícia, que passava com uma bandeja de copos vazios, respondeu sem desviar o olhar:

— Foi embora.

— Foi embora? Assim, do nada?

— Bruno veio buscá-la. Acho que ela se cansou de... certas coisas.

Ele franziu a testa, surpreso.

— Ela não disse nada.

Patrícia parou, olhou bem dentro dos olhos dele e soltou, enigmática:

— Talvez não precisasse dizer.

E saiu.

Dante ficou ali, parado, absorvendo a ausência. Sentou-se na beira da piscina, tentando encontrar no calor da tarde alguma explicação para o frio que crescia dentro dele.

Sentia-se vazio. Como se algo que nem sabia que desejava lhe tivesse sido tirado.

Mais tarde, ao subir para o quarto, começou a juntar algumas coisas na mochila. Júlia entrou e o encontrou de costas, dobrando a camisa favorita.

— Vai embora mesmo? — perguntou, tentando conter a voz trêmula.

— Não vejo mais razão pra ficar. — respondeu, sem se virar.

— Porque a Estrela foi embora? — desafiou, cruzando os braços.

Dante suspirou, cansado da tensão que se acumulava havia dias.

— Porque tudo isso tá sufocando. Porque eu não aguento mais fingir que tá tudo bem quando não tá.

Júlia mordeu o lábio inferior, contendo as lágrimas.

— Você só quer fugir. Sempre foi assim. E agora tá correndo porque ela se foi.

— Não é sobre ela. É sobre nós. A gente parou de tentar faz tempo, Júlia. Você sabe disso.

Ela baixou os olhos, derrotada.

— Me desculpa... pelas coisas que eu disse. Eu tô magoada, mas... ainda quero lutar.

Ele a olhou pela primeira vez, surpreso com a sinceridade.

— Não sei se ainda faz sentido lutar.

— Talvez não. Mas... posso ao menos tentar cuidar de você? Como antes?

Houve um silêncio tenso. Júlia respirou fundo.

— Vai tomar um banho. Vou preparar seu prato preferido. Quem sabe isso não ajuda a lembrar da gente de verdade?

E saiu, determinada, como quem encara uma guerra com flores nas mãos.

O dia seguiu calmo, mas não leve. Estrela passou o restante da manhã evitando cruzar olhares com Dante. Conversava com os demais convidados, ria com delicadeza, mas carregava um peso silencioso no peito. Algo dentro dela já começava a se perguntar se estava sentindo demais por alguém que talvez apenas estivesse carente.

Na varanda, enquanto os homens se preparavam para a pescaria e algumas mulheres organizavam um lanche, Patrícia se aproximou de Estrela com duas xícaras de chá de hibisco nas mãos.

— Aqui... você gosta, né? — disse ela, oferecendo uma das xícaras.

— Amo. Obrigada. — Estrela sorriu.

Ficaram sentadas por alguns minutos observando a paisagem. Patrícia, que sempre foi perceptiva, parecia guardar algo nos olhos. Até que soltou, de forma quase casual:

— Você e Dante estão se dando bem, né?

Estrela olhou para frente, disfarçando. — Acho que sim. Quer dizer... a gente conversou um pouco. Ele é gentil.

— É... quando ele quer, é mesmo. — Patrícia disse com um tom levemente irônico, mas não cruel.

Estrela franziu o cenho. — Por que esse tom?

Patrícia respirou fundo e apoiou a xícara no braço da cadeira de madeira.

— Olha, não quero me meter. Mas você é uma mulher doce, sensível... não queria te ver se machucando. Dante é... complicado. Júlia sabe disso, mas finge que não. E ele... ele tem um histórico que não combina com alguém que busca algo sério.

Estrela não respondeu. Apenas escutava. Um leve aperto se formava no estômago.

— Antes de Júlia, ele teve vários casos. Muitos. E mesmo com ela... bem, digamos que nem sempre foi fiel. Ela mesmo me contou. E olha, não sou santa. Mas tem homem que machuca mais com o silêncio do que com a traição.

Estrela abaixou o olhar. O chá, agora, parecia ter perdido o gosto.

— Patrícia... por que está me contando isso?

— Porque eu gosto de você. Porque sei como a gente se ilude com homens que parecem quebrados, achando que podemos curar. Mas Dante não quer ser curado, Estrela. Ele quer se sentir vivo, desejado. E isso dura... até a próxima.

Essas palavras ecoaram como um trovão dentro dela.

— Me desculpa — disse Patrícia, se levantando. — Só queria que você soubesse. Mas, claro, a escolha é sua.

Estrela ficou ali, imóvel, encarando o campo à frente. O vento soprou forte e fez as folhas caídas se agitarem. Ela sentia como se tudo dentro dela tivesse se deslocado também.

Mais tarde, quando Dante se aproximou para conversar, ela o evitou. Sorriu com educação, mas seus olhos já não buscavam os dele. Criou uma desculpa qualquer e se recolheu no quarto, alegando cansaço.

Na cama, com o lençol até o queixo, sentia-se ridícula. Tão vulnerável. Tão... boba. A lembrança da conversa com Patrícia se misturava com os gestos de Dante e criava um conflito que ela não sabia decifrar. Teria sido tudo apenas jogo? Um novo capítulo no histórico dele?

Lá fora, Dante procurava Estrela com o olhar. Sentia sua ausência como um silêncio incômodo. Algo havia mudado. Mas o quê? Ele não sabia.

Na varanda, Patrícia cruzou com ele. Trocaram um olhar breve, cheio de mensagens não ditas. Ele percebeu. E soube.

Patrícia havia falado com Estrela.

E talvez, só talvez... agora fosse tarde demais.