Capítulo 1 – Destino ou acaso
Estrela nunca foi do tipo que passava despercebida. Mas não por causa da beleza, das roupas ou do tom da voz — era o jeito com que olhava o mundo. Uma mistura de doçura com intensidade, como se carregasse nos olhos um jardim inteiro prestes a florescer.
Ela morava num cantinho simples, com paredes finas e alma grande. Dividia a vida com Bruno, seu companheiro há quase seis anos. Bruno era um homem correto. Trabalhador, prestativo, presente nas tarefas da casa. Dizia que a amava “do jeito dele”, e era aí que morava o conflito: esse jeito era frio, econômico em palavras, tímido em toques.
Estrela precisava mais. Precisava do abraço no fim do dia, do “você é linda” ao acordar, do toque no ombro na hora do café. Precisava ser vista com emoção, não apenas com responsabilidade. Mas toda vez que tentava expressar isso, Bruno se fechava. Dizia que ela “reclamava demais”, que “nunca estava satisfeita”. Ela então se calava… e voltava a tentar ser perfeita.
O dinheiro era contado, as contas apertadas, e mesmo assim ela doava tempo e coração a um projeto social onde cuidava de crianças de famílias carentes. Era ali, entre brinquedos velhos e flores plantadas com as próprias mãos, que ela sentia que ainda havia beleza no mundo.
Dante era o oposto de qualquer ideia de leveza. A vida o moldou assim — duro, prático, e sempre desconfiado. Casado com Júlia há oito anos, dividia com ela um passado de altos e baixos, incluindo traições que deixaram cicatrizes abertas. Mas eles decidiram continuar… pelo filho.
Léo, de apenas cinco anos, era o elo entre eles. Um menino esperto, de olhos atentos, que carregava no sorriso o que os pais já haviam perdido: a inocência. Dante e Júlia haviam tentado recomeçar. Jantares forçados, promessas novas, terapia de casal. Mas o toque era tenso, a conversa era superficial, e o perdão… incompleto.
Dante acreditava que o amor era coisa de quem não sofreu. O que importava era manter tudo funcionando: casa, contas, rotina. Vivia no automático. Até aquele dia.
O sol já começava a descer no céu quando Estrela se despedia das crianças. Algumas mães já haviam chegado. Outras estavam a caminho. Estava suada, cansada, com terra nas unhas — e ainda assim, havia um brilho diferente nos olhos.
Ela estendia a mão para recolher brinquedos espalhados quando sentiu a presença dele — uma energia, talvez, ou apenas o silêncio repentino do próprio coração.
Dante chegou sem esperar nada. Só queria pegar Léo e voltar para casa. Mas, quando seus olhos encontraram os dela, houve um segundo de suspensão no tempo. Estrela olhou, ele olhou, e por um instante, o mundo ficou mudo.
Ela estendeu a mão por instinto, para cumprimentá-lo. Ele apertou. Foi só isso. Mas foi como se um fio invisível tivesse sido reconectado. Um choque. Não físico, mas interno. Como se suas almas se lembrassem uma da outra de algum lugar onde não existia rotina, nem feridas, nem responsabilidades.
— Olá, acho que não fomos devidamente apresentados sou Estrela — disse ela, quase sussurrando. — Dante, parece que te conheço— respondeu, sem entender por que tinha vontade de continuar ali. _ Meu rosto é comum deve ser isso. Ela respondeu Os dois riram juntos.
Mas ele soltou a mão. Léo correu em sua direção. Ele o pegou no colo. Estrela sorriu para o menino. Dante não disse mais nada. Apenas foi embora. Mas levou consigo algo que não sabia nomear.
Estrela ficou parada, olhando o portão se fechar. Sentia pelo primeira que poderia confiar naquela pessoa mesmo sem o conhecer direito, parecia que o conhecia a anos.
Continua...