Capítulo 1- Destino ou acaso (continuação)
Estrela era professora de balé para mulheres adultas no centro cultural da cidade. Ensinava com paixão, usando a dança como ferramenta de cura e empoderamento. Naquela noite especial, haveria uma apresentação do grupo — um recital delicado, cheio de significado para ela e suas alunas. Tudo estava preparado. Coração acelerado, maquiagem leve, figurino alinhado. Estrela sentia aquele frio na barriga bom, de quem sabe que está vivendo algo importante.
A plateia começou a se formar. Ela espiou discretamente pela lateral do palco… e o viu.
Dante.
Sentado na terceira fileira, observava com atenção. Estava acompanhado de uma mulher de postura elegante e olhar firme — Júlia, sua esposa. Ao lado dela, uma amiga conversava animadamente. Era por causa dessa amiga, que também se apresentaria naquela noite, que o casal estava ali.
Nos bastidores, Estrela tentava concentrar-se, mas seu pensamento oscilava. “O que Dante está fazendo aqui?”, “Será que me viu dançar?”. Ela se sentia vulnerável, mas, ao mesmo tempo, viva.
Após a apresentação, o centro cultural abriu espaço para cumprimentos e fotos. Júlia se aproximou de Estrela com simpatia.
— Parabéns pela apresentação. Foi linda! Nem sabia que você dava aula para mulheres adultas — disse, gentil.
— Obrigada! É um grupo muito especial para mim. Cada uma tem uma história que se reflete na dança — respondeu Estrela, sorrindo.
Nesse momento, Dante se aproximou com um leve aceno.
— Você estava incrível — disse, num tom sóbrio, mas com os olhos dizendo mais do que a voz permitia.
— Obrigada… não esperava te ver aqui.
— Júlia tem uma amiga na turma. Ela nos convidou — respondeu ele, desviando o olhar.
Pouco depois, Bruno chegou. Vinha de um jogo de futebol beneficente que acontecera mais cedo, vestindo camisa polo e ainda com os tênis esportivos.
— Amor! — Estrela disse, surpresa. — Pensei que não daria tempo…
— Consegui sair um pouco antes — respondeu ele, e logo notou Dante ao lado da esposa.
— E aí, cara? — Bruno cumprimentou Dante com um aperto de mão firme. — A gente se encontrou lá no campo outro dia, né?
— Sim. Acho que foi no jogo da última semana — respondeu Dante. — Você joga bem.
— Ah, a gente tenta manter o ritmo — disse Bruno, rindo.
Estrela observava os dois, percebendo que se conheciam há pouco tempo, mas já tinham simpatia um pelo outro. Não eram amigos íntimos, mas havia respeito. E, naquele momento, isso bastava para deixar o clima leve.
— Que tal um jantar? — sugeriu Júlia. — A noite está bonita e tem um restaurante ali na esquina.
Bruno topou de imediato. Dante hesitou, olhou para Estrela… e concordou.
O jantar foi regado a conversas leves. Falaram de futebol, dança, viagens curtas pela região. Dante e Estrela trocavam olhares quase involuntários. Quando falavam, havia entre eles uma sintonia silenciosa. Bruno, cansado, mantinha-se mais quieto. Júlia, embora sorridente, parecia analisar tudo ao redor.
— É engraçado como as pessoas se cruzam — comentou Estrela, olhando para os pratos já vazios.
— Às vezes parece acaso… às vezes, destino — respondeu Dante.
Por um instante, o silêncio falou mais do que qualquer palavra.
E foi naquele jantar simples, com duas mesas unidas e copos suados de refrigerante, que algo novo se formou — não declarado, não permitido, mas pulsando debaixo da pele.