Capítulo 4 – Cicatrizes e Promessas

Dante sempre foi carismático. Tinha muitos amigos, era comunicativo e sabia como ninguém conduzir uma conversa. Mas, por dentro, carregava um vazio antigo. Nunca se sentiu realmente visto. Mesmo cercado de pessoas, havia um buraco silencioso dentro dele — um eco que vinha da infância.

Seu pai, um homem simples e trabalhador, lutava com as dificuldades financeiras e com seus próprios fantasmas. A maior falha que Dante lembrava era a infidelidade constante do pai. Ele via a dor nos olhos da mãe e, mesmo criança, jurava que faria diferente. Porém, ao crescer, se viu repetindo os mesmos erros.

Apesar de ter conquistado sucesso financeiro — algo que o pai nunca conseguiu — Dante falhou nos relacionamentos. Tinha tudo para ser feliz, mas carregava marcas que o impediam de se entregar completamente. Era casado com Júlia, uma mulher forte, linda, inteligente, que também havia sofrido demais.

Júlia conhecia suas falhas. Sabia das traições, como ele também sabia da dela. Não havia inocentes ali, apenas duas pessoas tentando se curar de um ciclo que parecia se repetir. A diferença é que, com o nascimento do filho, Dante decidiu que era hora de mudar.

Ser pai transformou seu olhar. Nada mais importava além de proteger aquele menino da dor que ele mesmo sentiu um dia. Desde então, se dedicava a ser presente, fiel, parceiro, mesmo que ainda enfrentasse seus próprios dilemas internos.

Naquela manhã, Júlia voltou da academia e encontrou Dante no escritório, revendo alguns contratos. Ela jogou a toalha no sofá, pegou um copo de água e soltou a novidade:

— Patrícia me ligou. Vai fazer uma festa de aniversário na fazenda neste final de semana. Só os mais próximos. Convidou a gente.

— E você quer ir? — Dante perguntou sem desviar os olhos do notebook.

— Não sei. Talvez seja bom pro nosso filho. Ele adora correr por lá. E você... talvez precise respirar um pouco também.

Ele fechou o notebook, respirou fundo e olhou para ela com suavidade:

— Eu só quero que você esteja bem. Que ele esteja bem. Se isso for bom pra vocês, a gente vai.

Júlia ficou em silêncio por alguns segundos. A resposta dele era simples, mas carregava um peso novo. Ele realmente estava tentando. Estava se esforçando para mudar o rumo da própria história.

E talvez, naquele final de semana, a vida desse mais uma chance de recomeçar.

Reflexão para o leitor:

Você também já percebeu que carrega padrões da sua família? Que dores do passado influenciam suas atitudes hoje?