Capítulo 5 – Um Final de Semana, Muitos Silêncios (Parte 1)

A fazenda da família de Patrícia era um verdadeiro refúgio. Rodeada por colinas verdes, cercas de madeira antiga e um lago cristalino afastado da casa principal, era o tipo de lugar que exalava tranquilidade e memórias. Ao redor da piscina, guarda-sóis coloridos e mesas rústicas acolhiam os convidados que já se serviam de churrasco sob o sol quente do início da tarde.

Estrela chegou com uma mala pequena e o coração apertado. Bruno não pôde acompanhá-la. Precisava trabalhar no fim de semana, e ela entendeu. Ou fingiu entender. A ausência dele deixava uma fresta para pensamentos que ela preferia não ter.

Depois de cumprimentar os presentes, subiu discretamente até o quarto que dividiria com outras convidadas. No silêncio da suíte ampla, decorada com tons pastéis e janelas grandes com vista para o campo, trocou-se. Vestiu um biquíni azul-turquesa, simples, mas que destacava ainda mais sua beleza natural. Ao se olhar no espelho, quase não se reconheceu. A atenção que recebeu ao descer não a deixou confortável. Sentiu os olhares e sorrisos. Sem saber lidar, inventou que ia caminhar um pouco e afastou-se da casa.

Seguiu por uma trilha leve até o lago. Ali, a água era mais escura, envolta por árvores altas e o silêncio só era quebrado pelos pássaros. Lançou-se à água e, por alguns instantes, cantou baixinho uma canção antiga que lhe acalmava o coração. Sozinha, sentia-se livre.

Dante chegou com Júlia e o pequeno Léo pouco tempo depois. Cumprimentaram Patrícia e logo Júlia foi se trocar para entrar na piscina com o filho. Dante ficou para trás, observando o movimento, escutando risadas, mas sem se sentir parte daquilo. Pegou um copo com suco, ignorou a cerveja, e resolveu dar uma volta.

Os passos o levaram ao lago. De longe, viu uma mulher nadando e cantando, a voz delicada flutuando no ar. Reconheceu Estrela. Ficou alguns minutos parado, em silêncio, observando. Ela parecia pertencer àquele cenário como parte da natureza. Quando se aproximou, o som dos passos fez Estrela se virar assustada. Pegou a toalha apressada e se cobriu, os olhos arregalados.

— Desculpa — ele disse com um sorriso sem graça. — Não queria te assustar.

— Tudo bem — respondeu ela, evitando olhá-lo diretamente.

Começaram a conversar, aos poucos. Tímidos. As palavras vinham curtas, mas os olhares falavam mais. Estavam tão próximos, imersos na presença um do outro, que nem notaram Léo correndo em direção ao lago, seguido por Júlia. De onde estavam, parecia que iriam se beijar. Júlia observou de longe. Mas quando se aproximou, percebeu que o clima era denso, cheio de tensão, mas não havia nada de concreto ali. Ainda.

Ao voltarem para a casa, Estrela tropeçou em uma raiz coberta de folhas. Antes que caísse, Dante a segurou firme pela mão. O toque os eletrizou. Permaneceram com as mãos unidas por alguns segundos além do necessário. Ela agradeceu com um sorriso sem graça, os olhos abaixados. Júlia, um pouco atrás, viu tudo em silêncio.

O resto da tarde passou com os dois mantendo distância. Mas Léo, encantado por Estrela, insistia em estar por perto. Falava das plantas do jardim comunitário, das brincadeiras na escolinha, e ela escutava tudo com carinho.

Quando o sol se pôs, a temperatura caiu. Estrela, sentada em um banco perto do jardim, tremia levemente. Dante, percebendo, pegou uma blusa sua e levou até ela.

— Toma, vai te esquentar. — disse, estendendo o agasalho.

— Obrigada... você não vai sentir falta?

— Não agora.

Sentaram-se lado a lado e começaram a falar sobre trabalho. Dante falou de suas inseguranças nos negócios, apesar do sucesso. Estrela o encorajou.

— Você precisa acreditar mais em si. Está fazendo um ótimo trabalho. Não deixe o medo te travar. Você está indo longe — disse ela.

Júlia se aproximou e, em um comentário impulsivo, falou:

— Às vezes acho que falta um pouco de intensidade em algumas pessoas. — E logo completou, se arrependendo: — Digo, Bruno é tão calmo, tão estável... às vezes eu invejo isso.

O silêncio que se seguiu dizia mais que qualquer frase. Pouco tempo depois, Júlia bocejou, alegando cansaço. Pegou Léo no colo, que já dormia, e se despediu de todos.

— Amor, vamos? — disse a Dante, já saindo.

Ele hesitou. Queria ficar mais um pouco, mas seguiu com ela. Estava escrito no olhar dele que o corpo ia, mas a alma ficaria ali, na varanda, ao lado de Estrela.

A noite seguiu calma, mas ninguém dormiu em paz.