Flor mundo da imaginação

Estrela cresceu em uma família com boa condição financeira, mas nunca se escorou nisso. Orgulhosa da sua independência, estudou Educação Física por conta própria, trabalhando como instrutora em academias e dando aulas de dança para manter os estudos. Nunca precisou pedir ajuda aos pais, embora soubesse que, se pedisse, teria. Mas havia algo nela que não permitia depender de ninguém.

Sempre foi do tipo que se importava com os outros. Não bebia, não fumava, nunca se envolveu em brigas nem deixou dívidas. Tentava ser correta em tudo, mesmo que isso a tornasse mais dura consigo mesma. E talvez por isso, esse sentimento que agora nascia a corroía por dentro. Não era só confusão: era uma ferida moral. Como podia se sentir tão tocada por alguém que mal conhecia?

Naquela manhã, recebeu uma ligação de Patrícia. O aniversário dela estava chegando, e planejava uma festa íntima na fazenda da família. Apenas os amigos mais próximos. Estava convidando Estrela para passar o final de semana lá.

— Vai ser ótimo pra você respirar outros ares — disse Patrícia. — Você anda meio aérea esses dias. Que tal?

Estrela hesitou por alguns segundos, mas aceitou. Não sabia exatamente por quê. Talvez precisasse mesmo se afastar. Colocar a cabeça no lugar. Talvez fosse só vontade de fugir de si mesma por uns dias.

Enquanto arrumava a mala, um nó se formava em seu peito. Tinha tentado ignorar os sentimentos, racionalizar, fingir que era apenas um momento de confusão. Mas o incômodo persistia. Ela não era do tipo que se deixava levar por qualquer emoção. Sempre teve controle. Sempre soube separar razão de impulso. Por isso aquilo a deixava tão inquieta.

Deitou-se naquela noite tentando meditar, buscando respostas no silêncio do quarto. Pensou em tudo o que construiu, nas escolhas que fez, nas renúncias. Tinha orgulho de si. Mas, pela primeira vez, sentia que talvez estivesse perdendo algo de si mesma no esforço de ser sempre tão certa.

Talvez aquele fim de semana na fazenda fosse mais do que um convite para comemorar o aniversário de uma amiga. Talvez fosse o começo de uma jornada para dentro de si mesma.

E ela estava disposta a encarar.